





Uma importante virada narrativa marcou os capítulos mais recentes do remake de "Vale Tudo". O personagem Poliana, interpretado por Matheus Nachtergaele, revelou ser assexual em conversa com a irmã Aldeíde, vivida por Karine Teles. A revelação acontece em meio ao interesse romântico demonstrado por Dalva (Nataly Rocha), fornecedora que chega à história para movimentar as tramas. 5i2h2x
A cena foi um dos destaques da semana e sinaliza o aprofundamento de um tema ainda pouco retratado nas novelas brasileiras: a assexualidade, uma orientação sexual legítima, mas que ainda sofre com incompreensão e desinformação. Em 1988, na versão original da novela, o personagem de Poliana era heterossexual e vivia um romance com Íris (Cristina Galvão), enredo que, até o momento, não faz parte dos planos da autora Manuela Dias para o remake.
Embora seja uma novidade para Vale Tudo, a temática da assexualidade já foi retratada anteriormente em outra produção da Globo. Em "Travessia" (2022), escrita por Glória Perez, os personagens Rudá (Guilherme Cabral) e Caíque (Thiago Fragoso) também se identificavam como assexuais. A proposta, como agora, era abrir espaço para a discussão de uma orientação ainda cercada por mitos e equívocos.
A assexualidade é caracterizada pela ausência total, parcial ou condicional de atração sexual, e faz parte do espectro das orientações sexuais, assim como a heterossexualidade, a homossexualidade ou a bissexualidade.
Conforme explica a psicóloga Michelle Sampaio, especialista em sexualidade humana pela Faculdade de Medicina da USP, ao portal g1, a assexualidade não é um transtorno nem está relacionada a doenças hormonais. É, simplesmente, uma forma legítima de vivenciar a sexualidade.
Um dos principais enganos sobre o tema é confundir a assexualidade com baixa libido ou com celibato. A primeira é uma condição temporária, que pode decorrer de fatores emocionais, hormonais ou medicamentosos e costuma causar sofrimento. A assexualidade, por sua vez, não envolve sofrimento ou angústia. Pessoas assexuais não sentem falta de desejo sexual e vivem bem assim.
Já o celibato é uma escolha consciente e, muitas vezes, motivada por razões religiosas ou filosóficas, como ocorre com padres e freiras. Esses indivíduos podem sentir desejo sexual, mas optam por não praticar sexo. Os assexuais, por outro lado, simplesmente não sentem esse desejo e não precisam lutar contra ele.
A assexualidade é um guarda-chuva que abriga uma diversidade de identidades. De acordo com o Dr. Gonzalo Ramirez, psicólogo e clínico geral, existem várias formas de se identificar dentro desse espectro. Entre elas:
- Assexual estrito: não sente atração sexual por ninguém;
- Demissexual: pode sentir atração sexual apenas após estabelecer um forte laço afetivo;
- Grayssexual (ou cinzento): sente atração sexual raramente ou em contextos muito específicos;
- Assexual fluido: transita entre diferentes formas de assexualidade ao longo da vida.
Há também variações quanto à atração romântica. Alguns assexuais se apaixonam (assexuais românticos), enquanto outros não desenvolvem vínculos afetivos dessa natureza (assexuais arromânticos). Esses subtipos se cruzam com outras orientações românticas como heterorromântica, homorromântica, birromântica e panromântica, todas válidas e igualmente legítimas.
Contrariando outro estereótipo comum, pessoas assexuais podem ter relacionamentos afetivos e se envolver romanticamente. “A relação romântica independe do sexo”, explica Michelle Sampaio ao g1. Alguns assexuais inclusive escolhem fazer sexo para satisfazer o parceiro, mesmo sem sentir desejo. Porém, é fundamental que isso ocorra sem pressões ou abusos, respeitando os limites de cada indivíduo.